Dono do Studio Irezumi, em Belford Roxo, região metropolitana do Rio de Janeiro, Guilherme Irezumi passou uma temporada em Toyohashi, no Japão, e aperfeiçoou a técnica de tatuagem japonesa Irezumi para sua clientela no Brasil. Sua meta? Atingir a excelência em todos os estilos de tatuagem. Confira a entrevista exclusiva para o portal Expo Tattoo Brasil.
Há quanto tempo você tatua??
Sempre desenhei, desde crianças. Aos 15 anos, já era instrutor em Desenho e Pintura em tela a óleo em alguns cursos e projetos sociais. Em escolas, trabalhava com desenho em geral, ilustrações e história em quadrinhos. Mas fiquei desiludido com o mercado de trabalho na área artística e procurei outros caminhos. Em 2008, quando estava trabalhando como auxiliar de administração, um dos colegas tinha uma tatuagem muito bonita e ao me ver rabiscar durante o intervalo, insistiu para eu conhecer o Studio onde ele tinha feito a tattoo dele. Acabei indo, gostei da arte, mas na época não prestava muita atenção em tattoo por conta de preconceito, especialmente por influência da minha mãe e meu pai. Mas comentei com minha mãe, brincando, que tinha gostado e poderia me dar bem nessa área. Quando meu aniversário chegou em 2008, ela me presenteou com um kit simples de tatuagem. Essa foi minha porta de entrada.
Como começou a tatuar?
Como não queria usar ninguém de cobaia até dominar a máquina que ganhei, eu fui minha própria cobaia. Depois, procurei estúdios para obter informações e vi que era um mundo fechado, mas o tatuador Oscar, do Studio Black Heart abriu as portas para mim. Depois, o dono do Rei dos Piercings, o Robson. Trabalhei em mais dois estúdios para adquirir técnicas básicas e um pouco mais de conhecimento. Arranjei uma pequena área na loja de um amigo cabeleireiro para trabalhar perto de casa e conseguir dinheiro para viajar para Toyohashi, no Japão, onde também trabalhei em um Studio de animação chamado Pierrô como desenhista. Quando voltei ao brasil, em 2011, abri minha própria loja, o Studio Irezumi, que está aberto até hoje, cada vez mais próspero. (Irezumi é um estilo de tatuagem japonesa feita pela Yakuza, e também é basicamente a tradução da palavra tatuagem para português).
Temporada em Toyohashi - Japão
Hoje, quais são suas principais influências?
A verdade é que nunca fui muito de buscar influências. Sempre tentei adquirir minha própria forma de trabalhar, fazer o meu e não ligar muito para o que pensam, mas admiro e gosto de trabalhos de muitos artistas. Acho espetacular o trabalho do Dudu Arts, Victor Negrão, Emir Nunes, Diovany, Glauber Lets, Samurai, Monkei, Sandrinho, Catuaba, Oscar Silva. E internacionais, o Joe Miller, Alex Noir, Yohan Gilbert, Heliot Kohek.
Como funciona a criação das artes para os clientes? Você pega referências e/ou faz peças exclusivas?
Depende do cliente. Trabalho das duas formas. Geralmente, o cliente traz a referência e dou opções de variar ou melhorar. Ofereço também artes exclusivas mas é mais raro.
Você lembra da primeira tatuagem? Qual desenho foi?
Lembro sim. Foi um dragão que fiz na minha própria perna para testar a máquina e ver como funcionava. Essa foi minha primeira tattoo que fiz na pele, e primeira que fiz em mim.
Com a popularização da tatuagem nos últimos anos, você vê o meio unido ou os profissionais estão 'cada um por si'?
Com os anos que tenho na profissão, vi que têm vários tipos de tatuadores e entre eles há os unidos e os desunidos. Acho que na grande maioria é uma classe desunida, para tentar ganhar clientes, e que não buscam melhorar e evoluir, não só como artistas mas também como seres humanos. Acharia interessante a legalização da profissão para colocar os pingos nos is.
Após quanto tempo você acredita ter conseguido criar sua própria identidade dentro do estilo?
Mesmo após 10 anos, ainda não consegui criar minha própria identidade, devido a ter muitas responsabilidades com minha família e pouca ajuda externa, basicamente nenhuma. Tive que evoluir a pequenos passos e me tornei um tatuador comercial, que faz todos os estilos. Minha meta é me tornar espetacular em todos os estilos de tatuagem, sendo um tatuador completo, um verdadeiro artista.
Qual pedido de tatuagem mais inusitado que já te fizeram?
(Risos). Uma vez, um cara pediu para escrever ‘Foda-se’ de um ombro a outro com a fonte de letra do CD do Iron Maiden. Eu fiz, e depois de um ano o cara pediu para fazer uma cobertura gigante, porque tava dando muito problema para ele. Para cobrir, usei uma fênix (risos).
Qual parte do corpo você julga mais complicada para trabalhar, seja tatuar, preencher ou pintar?
No geral, não gosto de trabalhar em regiões como pescoço e outras que são classificadas de extrema dor para o cliente, pois eles acabam se mexendo muito e o trabalho pode sair com erros, e necessitar de mais trabalho para acertar. Têm clientes que depois que veem que a região dói muito, nem voltam por falta de coragem.
Você já teve que lidar com preconceito por conta da profissão em algum momento? Conte como foi.
Já lidei muito com preconceito, de vários tipos de pessoas. Tatuador até pouco tempo atrás era visto como vagabundo, pessoa sem futuro, ex presidiário, maluco...Até hoje sofro em relação à visão de pessoas que menosprezam a classe. Um exemplo é quando você tem que comprovar renda. Mesmo tendo uma renda estável e alta, as pessoas não lhe dão o devido valor. Tatuador é uma das profissões mais antigas do mundo e para o governo nós não somos nada, e isso reflete nas pessoas.
Quais os próximos passos da tatuagem na sociedade, na sua opinião?
Acredito que com a crescente onda de novos tatuadores sem talento ou potencial, que só querem entrar no ramo por dinheiro, a desvalorização da classe pode crescer cada vez mais. A única coisa a se fazer é regularizar a profissão, criar instituições de ensino devidas, faculdade para virar tatuador e dificultar a venda de materiais para leigos. Os tatuadores mais antigos e profissionais de verdade precisam se unir para frear o que tá acontecendo, e somente ensinarem àqueles que merecem e têm talento real.
Existe algo na sua trajetória como tatuador que teria feito diferente? O que?
Primeiro, teria ficado trabalhando mais tempo no Japão em vez de ter voltado rapidamente para o Brasil por saudades dos meus filhos. Poderia ter feito muita coisa e evoluir mais rápido com isso. E também deveria ter escolhido melhor a quem ensinei a profissão, ou coloquei trabalhando para mim. Tive alguns prejuízos e hoje em dia sou mais profissional nas minhas escolhas . E não vou pela emoção e sim pela razão, se vejo que não tem talento ou que não sabe trabalhar direito, não entra para família do Irezumi.
Qual mensagem pessoal e/ou profissional, ou mesmo de vida, você gostaria de deixar aos leitores do portal Expo Tattoo Brasil?
Se desliguem dessas falsas ideologias, e busquem uma nova perspectiva, evoluam! Todos somos seres humanos, indiferente de raça, cor ou opção sexual, não se acomodem com o que dão a vocês. Busquem seus direitos e não compactuem com coisas e pessoas erradas, que se aproveitam da inocência ou da falta de conhecimento. Se desliguem também de falsas idolatrias, seja em qualquer religião, ou política. O destino de vocês não está na mão de nenhum ser superior, está nas suas mãos, pois nada acontece se vocês não correrem atrás dos objetivos. O que nos diferencia são nossas mentes e força de vontade. Obrigado ao portal Expo Tattoo Brasil pela oportunidade. E um dica grátis: procurem ver as qualificações dos tatuadores e trabalhos próprios, para evitar arrependimentos. Procurem profissionais capacitados, e os valorizem.
Momento pensa-rápido:
Uma música: Pain, de Three Days Grace; e Emperor's new clothes, de Panic! at the Disco.
Um filme: The Evil Dead e as continuações, com Bruce Campbell.
Um livro: Hellraiser, de Alexandre Callari e Clive Barker; e Evangelho de Sangue, de Clive Barker.
Um lugar: Qualquer lugar onde estejam reunidos meus três filhos. E a cidade de Toyohashi. (risos).
Um ídolo: Minha mãe, Almezinda Gomes. Ela fez de tudo para me tornar um bom homem e nunca me deixou faltar nada. Faleceu há um pouco mais de um ano.
Uma frase: “Potencial não é uma dádiva, potencial é uma escolha. Ou você escolhe desistir ou escolhe vencer”.
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Sempre arrazando no qie faz parabens