Há cinco anos na profissão e há quatro com o próprio estúdio, kamylla
Araújo, a Kmy Tattoo, é sucesso invicto para os clientes de Niterói e
região. Em entrevista ao Portal Expo Tattoo Brasil, ela fala sobre o
quanto o conceito de tatuagem mudou em relação às mulheres e o mercado -
e vice-versa - e dá um recado a todas que desejam também conquistar
espaço nesta área. "Tatue como uma garota!".
Você sempre se imaginou tatuadora? O que fazia antes de começar nesta profissão?
Na verdade não! Nunca me imaginei como tatuadora, não fazia nem ideia
por onde começar, então nunca achei que seria uma opção, até um dia me
tocar que era por essa profissão que eu poderia me apaixonar. Antes de
tatuar passei por 65389643 profissões, cursos, até faculdades. Fui de
professora de inglês a maquiadora, e nunca me encontrei em nenhuma até
tatuar pela primeira vez.
Como você definiria seu estilo de tatuagem?
Essa pergunta, na verdade, é bem difícil para mim. Muitos clientes dizem
gostar do meu estilo de tatuagem, mas na realidade nem eu sei exatamente
qual é. Na verdade, dentro da minha cabeça, eu nunca gostei nem quis
fazer apenas um tipo ou estilo de tatuagem. Sempre gostei da novidade,
do desafio, e principalmente de fugir da mesmisse. Então acho que trouxe
isso para minha arte. Mas certamente tem detalhes e “toques” que eu
sempre dou em toda tatuagem que faço, como uma mistura de traços,
contrastes. E amo detalhes!

Como é processo até você finalizar uma arte? Você faz os próprios
desenhos, reproduz, ou os dois casos?
Não gosto de reproduzir ou copiar a arte de um outro artista. Acho,
aliás, que isso é quase impossível. Cada um tem uma visão artística, uma
técnica diferente. No geral, eu sempre peço referências aos meus
clientes como fotos, desenhos, qualquer coisa que tenha servido de
inspiração a eles ou elas para fazer a tattoo. É a minha forma de
'entrar na cabeça' do cliente e tentar visualizar aquilo que realmente
querem. E a partir daí, eu crio o desenho, junto com o cliente no
estúdio, para que a gente possa ir conversando e desenvolvendo tudo até
ficar a arte perfeita para aquela pessoa.
Quais suas principais referências de tatuadores (as) atualmente?
Acho que eu puxo um pouco de vários estilos diferentes. Sempre me
inspiro um pouco em cada técnica, cada desenho dos artistas mais
variados. Gosto muito dos trabalhos neotrads da Debora Cherrys e Hannah
Flowers; os aquarelas do Versus Ink e Adrian Bascur; sombreados do
Cameron Pohl; o super fineline do Dr. Woo e Tattooist Flower; as cores
da Katie Shocrylas; os contrastes do Dave Paulo; o realismo do Nikko
Hurtado. E tem muito mais gente que dá vontade de listar aqui, mas eu
ficaria o dia todo.
Qual foi o primeiro desenho que tatuou, você lembra?
Lembro, com certeza! Fiz dois contornos de lacinho na perna de uma
conhecida. Acho que levei quase duas horas de tão nervosa e tanto medo
de fazer besteira e errar!
E você, tem quantas tattoos no próprio corpo atualmente?
Confesso que tive que parar para contar, mas no total são 18. Por
enquanto, claro.
Costuma participar de convenções/expo de tattoo? Na sua opinião, o que
profissionais podem aprender ou acrescentar ao participar desses
eventos?
Já participei de algumas e acho que, acima de tudo, são importantíssimas
para se ter uma troca cultural, um aprendizado, acho que abrir um pouco
as nossas mentes como artistas. É sempre bom trocar ideia com outros
artistas da área, ver o que está surgindo de novo em questão de estilos,
materiais e técnicas. Pode ter certeza que toda convenção vai ter algo
de novo para conhecer, e todo conhecimento acrescenta.

Qual o pedido de tattoo mais inusitado ou bizarro que você se lembra?
Acho que o mais doido de todos foi um cliente que me pediu para tatuar
cabelo falso na cabeça careca dele, mas intercalando com os rostos dos
três filhos distribuídos pela cabeça. Imagina só! E já me pediram para
fazer AQUELE Pinocchio também. Obviamente não aceitei.
Qual recado você deixa para tantas meninas que gostariam de entrar nesta
área, mas ainda têm receio do mercado?
Eu diria primeiramente e, acima de tudo, para acreditar em si mesma.
Queira, estude, se jogue, se dedique o máximo que for possível. O começo
é difícil, muito difícil, ainda mais para nós mulheres que somos levadas
a acreditar muitas vezes que nem todo espaço pode ser nosso. Mas o mundo
é o nosso espaço, e com dedicação você chega lá, independente do que
possam dizer. Podem dizer coisas para te colocar pra baixo, para te
reprimir, para você deixar de acreditar em si. Mas menina, você chegou
até aqui com muita garra e muita luta, e ainda tem muito mais dentro de
você. Então use isso, e tatue como uma garota.