Sua carreira como tatuador profissional começou por acaso e hoje ele vive viajando entre convenções, workshops e outros eventos por vários países. Ex-piloto automobilístico profissional, poliglota e artista de referência em vários estilos de tattoo, ele também está inovando o conceito de convenções ao reunir artistas do mundo todo em seus eventos realizados em barcos na Alemanha e no Brasil. Este ano, Ivo Little Crime foi também jurado na Tattoo Week São Paulo, em outubro. Veja entrevista exclusiva do artista ao portal Expo Tattoo Brasil.
Começando pela sua história na tatuagem. Há quantos anos você é tatuador? E como tudo começou?
Comecei 18 anos atrás. Eu desenhava para um tatuador e ele começou a me dar aulas para ensinar no manejo das agulhas, montar a máquina e também sobre técnicas de tatuar. Foi, então, que iniciou tudo.
Você teve alguma profissão anteriormente ou ser artista foi sua primeira escolha?
Eu já conciliava a tatuagem com outro trabalho, inclusive para manter meu carro e minha paixão pelas pistas de corridas. Até que virei piloto automobilístico profissional e a tatuagem continuou apenas no tempo livre, em amigos, pelo gosto à arte. Mas há cinco anos sofri um acidente grave, quando fraturei a coluna e não pude mais correr. Desde então, sou tatuador em 100% do meu tempo.
Você lembra do primeiro desenho que tatuou? O que foi?
Fiz o Tigre do Ursinho Pooh em mim mesmo, para confirmar se sabia o que tinha aprendido.
Lembra do que sentiu ao finalizar a primeira tatuagem?
Pensei “A tinta ficou na pele e não perdi a perna”, então posso continuar.
Hoje, você faz muitas viagens a trabalho, acredito que tenha uma agenda bastante movimentada. Como faz para conciliar tudo com “uma vida em movimento” ? Você tem estratégias?
A minha estratégia é muito simples. Me juntar às pessoas que dão valor à arte. Crescer com artistas de países e técnicas diferentes também conta muito. Acho que o mundo é pequeno demais para ficar num só lugar. Só terminamos de aprender com a morte. A arte fica.
Você foi jurado na Tattoo Week São Paulo. Qual foi a impressão que teve do evento? E na sua opinião, o quanto é importante o aumento desses eventos em todo o mundo, para o mundo da tatuagem?
Eu gostei do evento porque conheço as convenções grandes na Europa. A diferença que percebi é que as convenções daqui são para disputa dos tatuadores. Na Europa, é mais para encontrar outros artistas, trocar ideias e dar ao público uma chance de tatuar com o artista favorito. Porque o normal na Europa é ter uma agenda já fechada de um ano ou mais. O Movimento Revolução e Respeito, #R2, é uma boa chance de fazer a arte crescer ainda mais e colocar os artistas à frente de tudo. Isso só vai acontecer se os artistas se unirem.
Por que o nome artístico ‘little crime’? Tem algum significado especial?
Little crime cresceu da ideia de que uma tatuagem para algumas pessoas é um crime pequeno. Quando geralmente pensam no que a mulher, mãe ou pai vão dizer quando virem. Então, de certa forma, todo mundo comete seu ‘crime pequeno’, como comer doce mesmo sabendo que não pode.
Quantas tatuagens você tem no próprio corpo? Alguma delas é preferida?
Não sei exatamente quantas já são. Estou fechando, tudo junto, então só conta como uma tattoo.
Você conhece diferentes culturas e pode dizer, melhor do que ninguém, sobre as principais diferenças entre elas. Existem peculiaridades em relação à tatuagem que são diferentes de um país para o outro? Ou a arte é a mesma seja na Alemanha, em Portugal, ou qualquer outro país?
A arte muda de país para país em relação ao desenho. Em cada país, os clientes têm o orgulho de levar as memórias do próprio lugar. Sobre as técnicas, são sempre quase as mesmas. Mas sempre há como aprender pequenos truques que ajudam a trazer mesmo resultado de formas mais simples. Sobre o material, não há um padrão.
Você tem um projeto próprio que seria uma convenção de tatuagem realizada na Alemanha, correto? Conta um pouco sobre isso, quando teve a ideia e quais os planos para a edição de 2020.
Sim, este ano eu fiz pela primeira vez na Alemanha, uma convenção própria para mostrar que é possível realizar uma que seja agradável para todos mesmo sem ser muito grande. A convenção aconteceu num barco com 25 artistas do mundo todo, todos convidados que gostam da arte da tattoo não como trabalho, mas como vida. Nenhum artista pagou estandes. Pelo contrário, foram patrocinados, com parcerias, ofertas. Houve um segundo barco, desta vez no Rio de Janeiro, com música ao vivo e um show de motos. Sim, motos num barco, fazendo manobras difíceis.
Em 2020, quero realizar outra vez, mas com outros patrocinadores que gostaram da ideia e querem ajudar. Como organizador, não ganhei nem quero ganhar dinheiro com a convenção. Minha ideia é promover um fim de semana legal com amigos que pensam e vivem como eu. Será outra vez na Alemanha, e convidarei também artistas para trocar ideias.
Jogo das frases:
Hoje, tatuar para mim é…. vida e liberdade.
O mundo precisa de menos preconceito e mais….liberdade de pensamento e humildade.
Três coisas essenciais na vida: Família, arte e….paciência.